quinta-feira, junho 11, 2009

Insuficiência cardíaca

Por fim, acabou-se o sossego... Acabou-se o conforto de um futuro mais ou menos certo, mais ou menos risonho, sobretudo risonho...
Ela olhou pela janela, admirou a promessa de um dia quente, um dia vão... Que dia estranho para a incerteza, que dia errado para a indecisão. Um dia dourado que noutro universo estaria predisposto ao baptismo sorridente de uma felicidade costumeira, familiar, agradável...
"Não interessa, era suposto ser um dia feliz!" Pensou, angustiada com o futuro, traumatizada pelo presente. Tentava desesperadamente sorrir, mas o seu único sorriso era agora sardónico, implacável, venenoso... Um parasita imundo agarrado a um rosto raptado à alegria...

Fechou os olhos, refugiando-se da luz. Sentia o coração pulsar na garganta, aprisionado, estenótico. Aliás, todo o seu corpo pulsava, rítmico, inundado pelo sangue que ela paradoxalmente acreditava acumular-se no seu peito.
"Pode alguém afogar-se no seu próprio sangue?" Ponderou na sua questão durante cerca de um minuto, e a resposta, convicta, era "sim". Medicamente falando, ou não. Imaginou os seus pulmões sangrando, lentamente absorvendo o líquido como uma esponja, tornando-se pesados, incómodos...
Mas a sua autópsia, reflectiu ela, revelaria uma outra patologia fatal... Uma doença de coração, de um coração que se julgou maior, que acomodou aquele volume adicional, e que, por tanto se esforçar, deixou de bater, exausto.

"Quão exausto pode o meu coração ficar?" Abriu os olhos, que se inundaram de luz. Ainda sentia o coração bater...

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