quinta-feira, junho 18, 2009

Abraço de árvore

Cuspi para o chão. Limpei a boca com o dorso da minha mão... uma picada, um ardor ácido na pele... A saliva ainda no canto dos lábios, como um veneno tóxico, desfigurante...
Abri a boca e deixei o ar prolongar-se sobre a minha língua, ar húmido de fragrância verde, percorrendo cada sulco, papila a papila... Mas o sabor de relva e primavera diluiu-se no travo azedo da minha boca, até perecer calado, apenas um cheiro vago, pegada volátil na atmosfera...

Abracei aquela árvore anciã, de tronco robusto e impossível, impossível de envolver em braços tão curtos... Recebi um beijo áspero, antigo, que me rasgou o lábio, inundando-me a boca em sangue. Com a mesma mão ulcerada de veneno, esfreguei-o na minha face...
Encostei firmemente a cara à minha árvore e olhei o horizonte. Saboreei o gosto férrico do sangue na minha língua... Na manhã seguinte, o Sol descobriu ali uma árvore estreita, corcunda, parasita, na sombra daquela árvore imponente, robusta, enorme... Amantes que ali se uniram...

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