sexta-feira, outubro 21, 2011

Jazz

Recusei-te o abraço,
Fugi do teu compasso,
Da tua música, da tua pauta...
Deixei-me agitar
Num ritmo sem dono,
Entreguei o meu corpo
Ao total abandono
De um samba vadio
E uma caipirinha...
E quando te vi de novo
Beijei-te na boca,
Fiz-te provar o meu sangue carioca,
E fugi outra vez
Para te deixar
Com saudades do sal,
Saudades do mar,
E da ondulação suave do meu dançar...

terça-feira, agosto 02, 2011

Inquietude

Sem querer solto um suspiro forasteiro,
Liberto uma corrente de inquietude,
Desfazendo as mais-que-perfeitas pétalas
Da flor que desejo que não mude...

E as pétalas vão-me caindo nas mãos
Como pedaços inevitáveis de história...
Aos meus olhos vai murchando um jardim,
Enquanto um outro se enraiza na memória...

E sem querer o coração vacila,
E as lágrimas jorram em cascatas
Arrastando, entre soluços, as palavras,
Absorvendo-me as ideias sensatas...

Resta-me na mão, por fim, um cálice,
Interlúdio entre o futuro e o passado...
Não sei se as outras flores terão tal fado,
Nem se deste texto semeado
Nascerá um rebento emancipado
Com mais folhas e mais pétalas e mais frutos...

Sem querer mergulho na inquietude,
Desejando que a flor nunca mude...

segunda-feira, janeiro 10, 2011

A Pílula da Felicidade

Tomámos
A Pílula da Felicidade,
Pulámos
E voámos,
Sorrimos muito nessa tarde...
Encharcámo-nos em gargalhadas,
Acelerámos palpitações,
Soltámos as amarras,
Demos corda a furacões...
E à medida que o efeito
Se amansava nos corações,
Berrámos silêncio
A plenos pulmões...
E serenámos o beijo
Que nos florescia nos lábios...
Calámos o nosso olhar,
Trocámos sorrisos sábios...
Até que...

O efeito da pílula
Acabou.
A felicidade foi-se...
Ou ficou?

O escultor

As suas mãos ousadas,
Tão robustas e firmes,
Com a maior delicadeza
Moldam as curvas aladas
Do corpo de uma deusa...

E os seus olhos atentos
À escultura que nasce em sua mão,
Escrevem versos de amor,
Cânticos de adoração...

Mas só a musa sua amada,
A mulher que é arte sua, recriada,
Lhe conhece o talento e o fervor,
Dos seus olhos poetas,
E das suas mãos de escultor...