segunda-feira, outubro 26, 2009

A Floresta Branca



A história das cores da floresta começa há muito tempo atrás, no dia em que as fadas, os duendes, as ninfas, os gnomos e os centauros a encontraram e fizeram dela sua casa. Nessa altura a floresta era branca, como uma página por preencher num livro de colorir. Na terra acídica de tez pálida cresciam ervas e arbustos brancos, vizinhos de altos carvalhos de troncos brancos com copas frondosas e brancas. Pequenos frutos e flores brancas espreitavam por entre as claras folhagens, e junto às raízes tortuosas emergindo do solo escondiam-se cogumelos todos brancos, sem pintas. As águas dos lagos e riachos ondulavam em correntes brancas e as montanhas longínquas recortando o horizonte vestiam-se também de brancas cores. E recobrindo toda a floresta como um vasto manto de brancura, estendia-se um céu branco com brancas nuvens, iluminado pela luz branca do Sol. E as fadas, os duendes, as ninfas, os gnomos e os centauros ficaram fascinados pela magia daquele lugar tão branco e resolveram torná-lo no seu novo lar.
Mas toda aquela brancura inquietou as ninfas, belas mulheres de pele clara usando leves vestidos de seda tão branca como a neve. Não lhes agradava ver a sua beleza camuflada na paisagem, e propuseram às outras criaturas que se decorasse a floresta de mil cores vibrantes. As fadas adoraram a ideia e logo transformaram as suas varinhas em finos pincéis. Os duendes deram pulinhos entusiasmados de satisfação, imaginando as imensas travessuras e guerras de tinta que a tarefa prometia. E os gnomos e centauros aceitaram também a proposta, seduzidos pelas ninfas.
E assim, bem cedo na clara manhã, os novos habitantes da floresta começaram a colori-la. As águas dos lagos e riachos foram pintadas pelas ninfas em tons de safira transparente, e as montanhas adornadas de cores de granito e mármore. Os duendes encarregaram-se das plantas, atirando sobre as copas das árvores baldes de tinta verde, que pingou no chão tingindo as ervas mais rasteiras da mesma cor. Pintaram as frutas com as mãos e salpicaram os arbustos com gotas carmim, fazendo nascer pequenas bagas. E escolheram para os cogumelos apetitosos tons de vermelho, dando risinhos traquinas quando o duende mais pequeno caiu no balde de tinta pérola, espalhando pintas brilhantes nos seus chapéus.
Servindo-se de pequenas paletas de madeira, as fadas ocuparam-se das pinturas mais finas, pincelando com minúcia as pétalas das flores e as asas das borboletas. Depois, voaram bem alto e pintaram o céu de azul celestial, emoldurando delicadamente a brancura das nuvens. E espalharam purpurinas douradas nos raios de Sol, coroando-o rei do céu matinal.
Para os gnomos ficaram os troncos das árvores e o solo, que encheram de tons secos de castanho terrestre, enquanto que os centauros se voluntariaram para escurecer os recantos mais sombrios, e pintaram no céu o enigma da noite.
Mas durante toda esta azáfama na floresta, um dos gnomos escondeu-se a um canto, irritado com as gargalhadas histéricas dos duendes atirando tinta para cima uns dos outros e com as canções alegres das fadas esvoaçando sobre a sua cabeça. Detestava tarefas felizes e harmoniosas como pintar a floresta de mil cores. E foi assim, entre risos maliciosos, que planeou roubar os baldes dos duendes e as paletas de tinta e pincéis das fadas, nessa noite, quando todos estivessem a dormir.
No meio da escuridão recolheu todo o material de colorir e caminhou furtivo por entre as árvores, de paletas de madeira debaixo dos braços, baldes de tinta pesando-lhe nas mãos e pincéis atravessados na boca. E mesmo antes de entrar no seu esconderijo dentro de uma gruta, sentiu um peso bruto prender-lhe a cauda e caiu para trás, atirando no ar os baldes, paletas e pincéis. E assim fez cair sobre a floresta uma chuva de gotas de tinta colorida.
Na manhã seguinte, a floresta despertou com os risos curiosos dos duendes a gozar com o gnomo caído no chão, coberto de tinta e dormindo de balde na cabeça. Só mais tarde se aperceberam do arco-íris que nascia na sua gruta e atravessava o céu, perdendo-se no horizonte. E longe, sobre as montanhas, ainda conseguiram avistar o centauro que pisou a cauda do gnomo, calvalgando velozmente por esse caminho colorido. Nunca mais o voltaram a ver... Mas as fadas dizem que ele agora vive no cume de uma montanha, vigiando os gnomos que querem pregar partidas aos outros habitantes da floresta...



(Texto por Susana Castilho e Imagem por Marco Leal)

domingo, outubro 25, 2009

No teu cantar

Músicas sentidas,
Aplausos sussurrantes,
Lágrimas rendidas
À espera que tu cantes...
À espera que recolhas
Nossas almas na tua mão,
E as projectes para o céu
Na aguda voz dessa oração...

E esperamos na guitarra
Uma resposta do além,
Acordes de magia e graça,
Bênção muda de ninguém...
A voz de um anjo distante
Em ritmos íntimos demais...
Esperamos a comunhão
De sons e cores celestiais...

Guitarradas de ternura,
Sentimentos singulares,
Sorrisos de alegria pura
À espera que não pares,
Temendo que o silêncio
Nos aprisione o respirar
Ao iluminar o anjo
Nascido no teu cantar...

sábado, outubro 17, 2009

Sorriso Rasgado

Pintei
Num pedaço de papel
Desenhos coloridos
Com um pincel...
E guardei com cuidado
No meu bolso
A alegria amachucada
Desse esboço.

Mas um dia
Quero pintar
A tua presença
Suspensa no ar...
Rasgar o papel
Para libertar
A alegria pintada
No teu respirar...

Quero oferecer-te
Um abraço terno,
Desdobrar-te um sorriso
Do meu caderno...
E dar-te um pincel,
Para pintares comigo
Gargalhadas soltas
De um novo amigo...

terça-feira, outubro 13, 2009

Raio Solar

Procuro em cada raio de Sol
Um vestígio claro desse olhar,
Um sorriso pintado no céu
Como herança do teu amar...
Uma memória quente a dançar...

Um calor terno, calmante,
Invisível carinho distante,
Flutuando como uma canção...
A energia pura e vibrante
Que outrora animou tua mão...

Espero por esse reflexo
Nas lágrimas que vou chorando,
Espero esse raio solar
Que as leve, evaporando
A saudade do teu olhar...

Mas não sei se moras na luz
Em que te tento lembrar,
Ou se o Sol te perdeu
Naquela noite de brando luar
Visitando o meu sonhar...


Para o meu pai, que recordarei sempre com carinho...

sábado, outubro 10, 2009

Em minhas mãos

Abri as mãos
E mostrei a toda a gente
Uma bola de suave cristal reluzente,
Quase invisível de tão transparente...
Um novelo de energia a florescer
Em finas tranças de calor,
Faíscas brancas deste ser...

Desenrolei a minha esfera de potencial
Estendendo-a no céu
Que revesti de cristal...
Quebrei-o depois em mil fragmentos,
Que são hoje estrelas, sorrisos, momentos
Vivendo no céu do meu sonhar...
Guardei tudo nestas mãos
Carregadas de amar...