segunda-feira, outubro 04, 2010

Segredos meus

Não ando a escrever muito.
Não é pela falta de tema, ou acontecimentos na vida passíveis de serem transferidos para a palavra escrita. Se assim fosse, teria textos vários sobre o esforço de estudar até literalmente transbordar de conhecimento em lágrimas, o alívio de mais uma etapa da vida ultrapassada com sucesso, as amizades presentes e ausentes nos festejos, a calmaria de um Verão salgado e apaixonado, o tormento de pensamentos quase filosóficos sobre a inevitabilidade da vida e da morte, a ansiedade perante o novo desafio de desempenhar a profissão que escolhi...
Sim, muito se tem passado, e muito tenho deixado escapar à tinta da caneta, ou ao tactear do teclado. Mas vejo-me encarregue de viver tudo, de sentir e de agir, de respirar cada momento. E encaro estas tarefas com muita seriedade.
As prosas e os versos hão-de vir, tenho a certeza. São por isso menos importantes estes pedacinhos que não escrevi? Não, nunca!... Mas serão talvez, eternamente, única e exclusivamente, meus...

segunda-feira, maio 17, 2010

Primavera no bosque

Ecoa no bosque um murmúrio veloz,
Um sussurar indiscreto
De folhagens sem voz,
Como o embalo secreto
De um baile floral,
Um despentear de pétalas,
Um amor intemporal...

Uma canção sem timbre,
Um prolongado gemido,
Um uivar de um lobo oculto
No soluçar arrependido
De um rio de rumo incerto,
Arrastado na jornada
De um amante inconsequente
Procurando a namorada.

E enquanto a fúria do Vento
Se dissipa no Inverno,
A Primavera envolve o bosque
Num leve abraço terno,
E desfaz a paixão irada
Do furacão que a chama,
Na carícia de uma brisa
Confessando que a ama...

terça-feira, março 23, 2010

Souvenir

Esqueci-me naquele dia
De te dar
O envelope selado
De luar...
O postal carimbado
Com um beijo,
Souvenir de uma noite,
De um desejo...

Acabei por guardar
Esse postal,
Recordação de um suspirar
Celestial...
Nele ficou a benção,
A magia,
De um brilhar que imaginei
Ser profecia...

E hoje releio o texto
E o luar,
A assinatura cintilante
Das estrelas...
E agradeço à luz do Sol
O evaporar
Das lágrimas vertidas
Ao escrevê-las.

sexta-feira, março 05, 2010

Tinta preta

Ela folheou o caderno... Torrentes de palavras, palavras, palavras e mais palavras, ali guardadas em tinta azul...
E leu algumas passagens, alguns versos, alguns pensamentos... "Fui eu que escrevi isto?!"
Os dias passam, as estações mudam, os sentimentos alteram-se e as páginas amarelecem... Nunca haverá dois textos iguais num mesmo caderno.

A escritora, essa, também já não é a mesma... Agora escreve com tinta preta.

segunda-feira, março 01, 2010

Até anoitecer...

Ficámos a olhar,
Lendo no horizonte
Um texto de mar,
Uma promessa de noite
Num adeus solar...

Escutámos com atenção
As preces do oceano
Numa agitada canção...
Descobrimos a lua
No ondular de um refrão...

Deixámo-nos ficar
Assim enrolados
Em braços de sal,
Acolhendo o anoitecer
No nosso ritual,
Entre suspiros saudosos
De um refúgio matinal...

sábado, fevereiro 13, 2010

Caderno novo

Páginas soltas,
Vazias,
De brancura suave,
Imaculadas...
Pedaços límpidos
De futuro,
De prosas,
De quadras...

Páginas nuas,
Cruas
De paixão,
Virgens inocentes
Sem tinta
Ou carvão...
Sonhos pendentes,
Alegrias em aberto,
Sorrisos por escrever
No capítulo certo...

Sinto o cheiro
Das páginas
De um caderno novo,
Por estrear...
Um diário
De beijos
Por trocar...
De promessas,
De histórias
A começar...

segunda-feira, janeiro 25, 2010

Pedaços de céu

Guardámos pedaços de céu,
Vestígios de estrelas brilhantes...
Guardámos punhados de Lua,
Pó de fadas dançantes...
Guardámos a melodia da noite,
Mil vozes sussurrantes...

Guardámos o vento e as nuvens,
Guardámos cometas, nebulosas,
Em abraços imensos de cores
E alegrias fabulosas...
Guardámos connosco esse céu,
Guardámos connosco esse amor,
E aconchegámos a noite cansada
Num berço solar de calor...

sábado, janeiro 09, 2010

Lareira

A chama tímida
De um fósforo inflamado
Acende na lareira
Um fogo exaltado
Que na luz se bamboleia...

E no ritmo crepitante
De uma dança de calor
Consome lenha, carvão,
Mesmo cartas de amor...

Arde lentamente,
Desfaz frases de paixão
Em cinzas de versos vãos...
Passeia-se na lareira
E aquece-nos as mãos.