quinta-feira, julho 10, 2008

Fada (in)feliz


    Sorria,
    A criatura
    Sorria todo o dia...
    Sorria,
    E cegava
    O mundo de alegria.
    Sorria...
    E sorrir,
    Era um voo a fingir.
    Sorria
    Todo o dia,
    Porque sorrir era magia...

    Mas quando nos cortam
    As asas de um sonho,
    Não parece haver no mundo
    Um momento risonho...
    E ela já não sorri agora,
    Pelo menos a toda a hora...


quarta-feira, julho 02, 2008

Histórias de borboletas


    Ah, um conto que estava guardado na gaveta, e que me fez esboçar um sorriso de ternura e saudade dos meus trabalhos infantis...


    A Rainha das borboletas


    Era uma vez uma borboleta muito, muito bonita. As suas asas tinham mil cores e ao voar deixavam um rasto brilhante de pózinhos de perlimpimpim.
    A Borboleta de Mil Cores era mágica. Todas as manhãs esvoaçava sobre um enorme jardim florido e cobria as flores de pó brilhante. Ao reflectir a luz do Sol, os pózinhos de perlimpimpim transformavam-se em pequenas gotas de orvalho. E assim, a Borboleta de Mil Cores acordava as flores e refrescava-lhes as pétalas, que ganhavam cores mais vivas e elegantes.
    Um dia, quando o Sol anda dormia tapado com a sua manta de horizonte, a Borboleta de Mil Cores viu uma luz ao fundo do jardim. Era uma luz cintilante e quente, e parecia uma pequena estrela no meio das flores.
    Com cuidado para não acordar as flores, a borboleta esvoaçou silenciosamente na direcção da luz.
    Ao aproximar-se percebeu que a luz vinha das pétalas de uma flor prateada, ainda em botão.
    A Borboleta de Mil Cores ficou muito curiosa pois nunca tinha visto uma flor igual, e decidiu voar até ao horizonte para acordar o Sol. Voou velozmente, deixando um rasto brilhante no céu.
    Quando chegou ao horizonte, a borboleta chamou bem alto pelo Sol. O Sol espreitou, ensonado, e, espreguiçando os seus raios alaranjados, vestiu-se de calor.
    «Sol, ilumina a nova flor prateada do jardim!» pediu a borboleta.
    E o Sol clareou o dia, esticando um raio na direcção do jardim. Ternamente, acariciou a corola brilhante e o pequeno botão prateado acordou, abrindo as suas pétalas.
    A Borboleta de Mil Cores ficou encantada. A nova flor tinha enormes pétalas de fino recorte, decoradas com motivos de ouro. Os seus grãos de pólen pareciam minúsculos diamantes.
    Atraída pela beleza e brilho mágico, a borboleta poisou na flor prateada.
    Mas assim que tocou com as suas pequenas patinha no pólen da flor, as enormes pétalas fecharam-se, engolindo a borboleta!
    E durante dias a Borboleta de Mil Cores não foi vista. Todas as manhãs as flores esperavam pelo seu alegre bater de asas, mas dele não havia sinal. E as flores começaram a perder as cores e a murchar sem o orvalho mágico da borboleta.
    Até que um dia as belas pétalas da flor prateada voltaram a abrir. De dentro da flor saiu a Borboleta de Mil Cores, num bater de asas rápido. Estava mais brilhante e esbelta, e tinha na cabeça uma maravilhosa coroa cravejada com mil pedras preciosas. Tinha-se transformado na Rainha das Borboletas.
    E ao ver o jardim tão murcho e seco, a Rainha das borboletas comoveu-se. Pegou na sua coroa e semeou as suas mil pedras preciosas.
    Passado pouco tempo, com a ajuda do Sol, nasceram mil flores de pétalas cor de cristal.
    A Rainha das borboletas voou sobre as flores, espalhando finos pós de perlimpimpim prateados e as mil flores abriram-se, libertando mil borboletas de asas transparentes.
    E, a partir desse dia, todos os jardins do mundo passaram a ser banhados com pózinhos de borboleta, e as flores tornaram-se mais belas e coloridas.


terça-feira, julho 01, 2008

Déspota


    Tantas foram as batalhas,
    As derrotas,
    As vitórias,
    Tanto sangue nas memórias
    De quem conduziste à morte...
    Tantos soldados sem sorte
    Enterrados sem as glórias
    De viver longas histórias...
    Tanta vida, tantas horas...

    Tantos desejos fatais,
    Golpes duros,
    Sonhos brutais,
    Tanto ódio plos demais
    Toldando-te a visão...
    Tanto fogo sem razão,
    Chamas sem emoção,
    Sem esperança, sem vontade,
    Incêndio sem liberdade...

    Tantos condenados
    À maldição
    De novos fados,
    Corações tão mal-tratados,
    Sem amor e sem cura...
    Tantos olhares amargurados
    Nas garras da loucura...
    Tantas paixões, tantos futuros
    Sem abraços ou ternura...

    Tanta dor por ti causada,
    No fim não traz mais nada
    Do que o som da tua espada
    A exigir justiça ao mundo...
    E nesse último segundo,
    Dessa existência irada,
    És todo-poderoso:
    Até a tua má sorte
    Foi por ti comandada...