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De África até Lisboa
Perdido no tempo...
Tenho-te no pensamento,
Voz perdida no vento...
Onde estás sei bem,
Onde ficaste, também...
Junto a tantos outros
Que nesta terra de ninguém
Foram algo para alguém.
Ficaste neles
E em mim também.
De África até Lisboa
Perdi-te no tempo...
Perdi-te numa duna
Moldada pelo vento
E deixei-te ficar
Além terra e além mar...
E no fim...
Deixaste-te ficar em mim.
Um aniversário depois,
a última vez que te falei...
Passeia-se ali o puto cigano,
De cara suja, olhar profano,
Mais uma vez naquela rua
Que não lhe pertence, mas sempre foi sua.
Olha com desdém o indiano,
Cheiro a incenso e a canela...
Enxota sem dó a cadela
Que lhe fareja o corpo imundo
De ladrão e vagabundo.
Uma esmola e um roubo adiante,
Visita o vendedor ambulante,
Seu pai, sua gente...
Escarra na raça diferente.
A miúda da loja de pechinchas,
De tez amarela e olhos de amendoas,
Só sabe falar chinês,
E ele insulta-a outra vez,
Não em calão ou português
Mas em dialectos de malvadez.
Mais à frente passa o turista,
Objectiva em punho, tom de lagosta...
E ao preto que vê então
Só lhe deseja o caixão.
Mas moram todos ali,
E o cigano não tem remédio...
Cospe no chão e sorri...
Perdi
Num cair do bolso
distráido
Todo um fabuloso destino...
Uma moeda, uma sorte
No caminho...
Caiu num passeio sózinho,
Fugiu de um uso esquecido...
Mudou-se o fado assim
No tilintar do futuro perdido...
Separado de mim...
Era apenas troco do passado.
Sem ele não sei o que perdi.
Talvez uma viagem, um fado
Num bilhete de volta para aqui...
Ao futuro que nunca vi...