sábado, agosto 23, 2008

Ficaste


    De África até Lisboa
    Perdido no tempo...
    Tenho-te no pensamento,
    Voz perdida no vento...

    Onde estás sei bem,
    Onde ficaste, também...
    Junto a tantos outros
    Que nesta terra de ninguém
    Foram algo para alguém.
    Ficaste neles
    E em mim também.

    De África até Lisboa
    Perdi-te no tempo...
    Perdi-te numa duna
    Moldada pelo vento
    E deixei-te ficar
    Além terra e além mar...
    E no fim...
    Deixaste-te ficar em mim.

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        Um aniversário depois,
        a última vez que te falei...

        quarta-feira, agosto 13, 2008

        Martim Moniz



            Passeia-se ali o puto cigano,
            De cara suja, olhar profano,
            Mais uma vez naquela rua
            Que não lhe pertence, mas sempre foi sua.

            Olha com desdém o indiano,
            Cheiro a incenso e a canela...
            Enxota sem dó a cadela
            Que lhe fareja o corpo imundo
            De ladrão e vagabundo.

            Uma esmola e um roubo adiante,
            Visita o vendedor ambulante,
            Seu pai, sua gente...
            Escarra na raça diferente.

            A miúda da loja de pechinchas,
            De tez amarela e olhos de amendoas,
            Só sabe falar chinês,
            E ele insulta-a outra vez,
            Não em calão ou português
            Mas em dialectos de malvadez.

            Mais à frente passa o turista,
            Objectiva em punho, tom de lagosta...
            E ao preto que vê então
            Só lhe deseja o caixão.

            Mas moram todos ali,
            E o cigano não tem remédio...
            Cospe no chão e sorri...

          segunda-feira, agosto 11, 2008

          Cara ou coroa


            Perdi
            Num cair do bolso
            distráido
            Todo um fabuloso destino...
            Uma moeda, uma sorte
            No caminho...

            Caiu num passeio sózinho,
            Fugiu de um uso esquecido...
            Mudou-se o fado assim
            No tilintar do futuro perdido...
            Separado de mim...

            Era apenas troco do passado.
            Sem ele não sei o que perdi.
            Talvez uma viagem, um fado
            Num bilhete de volta para aqui...
            Ao futuro que nunca vi...