Passeia-se ali o puto cigano,
De cara suja, olhar profano,
Mais uma vez naquela rua
Que não lhe pertence, mas sempre foi sua.
Olha com desdém o indiano,
Cheiro a incenso e a canela...
Enxota sem dó a cadela
Que lhe fareja o corpo imundo
De ladrão e vagabundo.
Uma esmola e um roubo adiante,
Visita o vendedor ambulante,
Seu pai, sua gente...
Escarra na raça diferente.
A miúda da loja de pechinchas,
De tez amarela e olhos de amendoas,
Só sabe falar chinês,
E ele insulta-a outra vez,
Não em calão ou português
Mas em dialectos de malvadez.
Mais à frente passa o turista,
Objectiva em punho, tom de lagosta...
E ao preto que vê então
Só lhe deseja o caixão.
Mas moram todos ali,
E o cigano não tem remédio...
Cospe no chão e sorri...
1 comentário:
A minha realidade quotidiana tem sido muito próxima de tudo isso.Acabamos todos por nos sentirmos quase turistas no Martim Moniz de todos os dias,e um pouco como eles.Continuo sem perceber os ciganos e alguns chineses.Mas andamos todos ali.Escarramos no chão e sorrimos.
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