quinta-feira, maio 10, 2007

Olhares...

E o bom humor de um dia bem sucedido invadia-lhe o rosto durante aquele caminho rotineiro. O brando Sol de Inverno ameaçava acabar precocemente com a tarde, motivado pela ridícula mudança horária. Mas nem o fim da claridade, nem o peso dos livros nos seus braços, nem o silêncio do seu trilho lhe apagavam o brilho do rosto.
Desviou-se um pouco para o lado, entrando num longo corredor de portas de edifícios e pequenas lojas. Ao aproximar-se de uma das entradas repara num rapazinho adolescente de guitarra eléctrica ao colo. Por um momento o tempo parou: os passos pareceram atrasar-se enquanto observava os dedos magros do rapaz a acariciarem o seu tesouro musical. As cores da guitarra variavam entre um espectro de roxo e verde-esmeralda, com um leve brilho que as misturava e fundia. E o jovem músico, desligado do resto do mundo, dedicava-lhe longos minutos de contemplação.
Foi um pequeno momento de efusividade e alegria, aquele em que ela sorriu calorosamente e falou ao rapaz, precisamente quando passava em frente dele. "Que guitarra tão gira!"... E continuando a andar com a cabeça virada para ele, recebeu a sua resposta num grande e simpático sorriso e no agradecimento mais sincero que se pode receber de um desconhecido. "Obrigada!"
Tanto brilho e tanto carinho em dois sorrisos e numa troca de palavras... Pequenas histórias de todos os dias... Histórias daquelas que enchem a vida.

quinta-feira, maio 03, 2007

História de tempo

Tive uma discussão com o Tempo,
Feia, violenta, enraivecida...
Quis arrancar os ponteiros com que ele
Me marcou a face toda a vida.

Segurei-os com ambas as mãos
Para lhes impedir os movimentos,
Tentar alargar os meus minutos,
Dar aos dias alguns prolongamentos.

Mas a força dos desejos incompletos
Que o tempo me impede de preencher
Revelou-se insuficiente para alterar
A duração que a vida tem de ter.

E aí gritei com o Tempo, chorando,
Por ter a vinte e quatro reduzidas
As horas que queria repartir
Por mil ambições comprometidas.

13/02/07