quarta-feira, dezembro 30, 2009

Borboletas

Quando penso
Nos sonhos
Esvoaçando
Como borboletas
Sobre flores,
Imagino-lhes as cores
O desenho
E o recorte
Das asas,
E o cheiro da sorte
Agarrada ao pólen
Das suas patas...

Quando vejo
As borboletas
Esvoaçando
Como sonhos
Da minha vida,
Tento agarrá-las
Num golpe de sorte
Real, florida...

sexta-feira, dezembro 25, 2009

Prenda de Natal


São papéis dourados,
Fitas aveludadas,
Envolvendo sonhos,
Abraços, gargalhadas...
Pequenos embrulhos
De carinho musical,
Cânticos de sinos
Na noite de Natal...
São poemas, são encantos,
Que vos ofereço assim
Em sorrisos enfeitados,
Palavras de cetim...


O meu poema-presente, escrito nas pequenas prendas que ofereci este ano... Um Feliz Natal para todos!

domingo, dezembro 20, 2009

Noite fria

Enroscou-se um pouco mais no sofá, puxando a manta até ao queixo. Apesar das várias camadas de algodão e lã que lhe cobriam o corpo, e do aquecedor que tentava contrariar o ar gélido daquela noite, sentia-se algo desconfortável, contraída...
A gata saltou-lhe para cima do ombro e, dando algumas passadas pesadas ao longo do seu corpo, deitou-se na concavidade das suas pernas dobradas. Enrolou-se ali e fechou os olhos, partilhando o seu calor felino. E ela tinha agora as pernas quentes, mas o peito ainda frio.
Trocou um sorriso com Ana, enquanto contemplavam a gata, um retrato de apetecível paz... Teceu um comentário qualquer sem grande importância, e ela concordou, em mais uma longa baforada do seu cigarro. Era um cigarro todo branco, de mentol, com que ela própria tentava aquecer o peito, desafogar a noite... E o fumo ia dançando ao som de uma música antiga, com o ritmo de outras décadas, em que um dia tinham desejado viver, num sonho meio tremido, a preto e branco...
Na mesa ainda estava a caixa de fotografias, pedacinhos de estórias e momentos que ambas partilharam com uma pontinha de saudosismo e admiração na voz, uma ou outra lágrima no canto do olho... Incrível a quantidade de sentimentos que se consegue guardar numa só caixa...
Mas naquele momento discutiam o futuro... Entre gargalhadas e olhares brilhantes delinearam diferentes cenários, fantasias e delírios de grandeza, sonhos que falaram alto... E perdidas nas possibilidades de felicidade e tristeza, deixaram os seus risos dissipar-se na noite, enquanto saboreavam o calor que lhes inundava o peito...

sábado, dezembro 12, 2009

Teclas

Ora bem, ela sentou-se, vamos lá começar isto, e assim ela começou a distribuir os dedos pelo teclado, tuc tuc tuc, faziam as teclas... E com o ritmo das suas escritas compôs uma música de melodia incerta, tuc tuc tuc, só se ouvia o bater pausado das teclas, um staccato de velocidade variável, tuc tuc, faziam os dedos dela primindo com precisão, enquanto perante os seus olhos se construia um texto confuso, tuc tuc tuc...
Mas, espera, deixa-me apagar a última frase, ela prime ininterruptamente a mesma tecla, está mal, está feio, e depois de fazer desaparecer aquele pedaço da pauta, espera deixa-me corrigir esta também, e apaga todo o texto, tuc tuc tuc, digita umas reticências...
Tuc tuc tuc, depois de um dia de trabalho foi isto que saiu, tuc tuc tuc, tenho a cabeça cheia, o corpo derrotado, tuc tuc, ouve-se o bater das teclas, sinto a alma dormente...

Finalmente, ela puxou o cabelo para trás das orelhas e encostou-se à cadeira:
"Chegou o frio, tenho o cérebro congelado!"

quarta-feira, dezembro 02, 2009

Há uma canção na corrente

Há uma canção na corrente
Contando a história do rio...
Há uma canção na corrente
Na melodia de um assobio...

Uma canção de criança,
De inocente e límpida voz...
Uma canção de criança,
Um sorriso perdido na foz...

Leva a fragata de Outono,
Folhas secas a navegar...
Leva a fragata de Outono
Rumo ao sonho, rumo ao mar...

Canta também a floresta,
Melodia de passarinhos e vento...
Canta também a floresta
Ao rio que é seu alimento...

E há um arrepio de frio
Na pele nua de dois amantes...
Há um arrepio de frio,
Ritmo de corações palpitantes...

E também a cascata estremece...
Guitarra soluçando um fado...
Também a cascata estremece
Quando o rio lhe canta o passado...

Mas há uma canção na corrente
Arrastando pedacinhos de nós...
Melodia inconsequente
Que se dissipa na foz...
E entre timbres de outras memórias,
Vozes salgadas de mar,
Transforma-se o rio de histórias
Em ondas azuis a dançar...