quarta-feira, março 11, 2009

História de solidão


    Uma pequena gota de suor percorreu-lhe as curvas do rosto, para finalmente cair no chão. Ela abanou energicamente a cabeça, projectando outras gotículas em todas as direcções. Mas continuou...
    Após alguns saltos e piruetas terminou numa pose firme, confiante. Mas toda a sua segurança se desmoronou numa fracção de segundo, quando se atirou ao chão, respirando sofregamente. Ainda hiperventilando, decidiu que estava na hora de parar.
    Lavou a cara com água bem gelada, passando as mãos sobre os olhos e bochechas. Analisou a sua face rosada no espelho antes de a enxugar demoradamente numa toalha macia. Sabia bem parar e sentir aquelas gotas frias escorrerem-lhe sobre as feições ainda escaldadas.
    Sentou-se e olhou em volta, o balneário vazio e o relógio avançado. Aquela solidão, que lhe permitia descansar e lavar-se sem pressa, sem um único som para além do correr da água do chuveiro ou do tilintar da fivela do cinto ao ser apertada, essa solidão serena, essa sim, sabia-lhe bem.
    Durante o dia, várias eram as ocasiões em que se sentia só. Sentia-se só, quando se sentava na mesa do canto do café e fumava o seu cigarro em baforadas lentas, observando o fumo atravessar o lugar vazio à sua frente. Sentia-se só quando passeava pelas lojas, experimentando conjuntos ousados, que a faziam desejar ter alguém que lhe desse uma opinião. Sentia-se só quando ia para as aulas, sabendo que naquele anfiteatro cheio de jovens estudantes como ela própria, não haveria ninguém que lhe guardasse o lugar se chegasse atrasada. Sentia-se só quando se deitava de noite, por não ter o calor de um homem a quem se agarrar, a quem beijar sofregamente, na esperança de fazer toda aquela solidão desaparecer...
    Mas naquele momento, naquele balneário, sem ninguém por perto, sentia-se só, mas não se sentia infeliz. Estava serena. Cansada, nua, relaxada...
    Acabou de se vestir, e arrumou as coisas rapidamente na mala. Saiu finalmente do balneário, e da academia. Ao dizer "boa noite" à recepcionista não pôde deixar de notar que esta a seguiu com o olhar, certamente admirada pela hora tardia a que saíra.
    Dirigiu-se sózinha para o carro, e conduziu até casa. Ao chegar ao seu quarto atirou-se para cima da cama e fechou os olhos, absorvendo aquela solidão pacífica. E decidiu que não passaria outro dia sózinha.

      1 comentário:

      Daniel disse...

      Quando a solidão se sente só e espera a quebra do silêncio.Giro.