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Sorria,
A criatura
Sorria todo o dia...
Sorria,
E cegava
O mundo de alegria.
Sorria...
E sorrir,
Era um voo a fingir.
Sorria
Todo o dia,
Porque sorrir era magia...
Mas quando nos cortam
As asas de um sonho,
Não parece haver no mundo
Um momento risonho...
E ela já não sorri agora,
Pelo menos a toda a hora...
Ah, um conto que estava guardado na gaveta, e que me fez esboçar um sorriso de ternura e saudade dos meus trabalhos infantis...
A Rainha das borboletas
Era uma vez uma borboleta muito, muito bonita. As suas asas tinham mil cores e ao voar deixavam um rasto brilhante de pózinhos de perlimpimpim.
A Borboleta de Mil Cores era mágica. Todas as manhãs esvoaçava sobre um enorme jardim florido e cobria as flores de pó brilhante. Ao reflectir a luz do Sol, os pózinhos de perlimpimpim transformavam-se em pequenas gotas de orvalho. E assim, a Borboleta de Mil Cores acordava as flores e refrescava-lhes as pétalas, que ganhavam cores mais vivas e elegantes.
Um dia, quando o Sol anda dormia tapado com a sua manta de horizonte, a Borboleta de Mil Cores viu uma luz ao fundo do jardim. Era uma luz cintilante e quente, e parecia uma pequena estrela no meio das flores.
Com cuidado para não acordar as flores, a borboleta esvoaçou silenciosamente na direcção da luz.
Ao aproximar-se percebeu que a luz vinha das pétalas de uma flor prateada, ainda em botão.
A Borboleta de Mil Cores ficou muito curiosa pois nunca tinha visto uma flor igual, e decidiu voar até ao horizonte para acordar o Sol. Voou velozmente, deixando um rasto brilhante no céu.
Quando chegou ao horizonte, a borboleta chamou bem alto pelo Sol. O Sol espreitou, ensonado, e, espreguiçando os seus raios alaranjados, vestiu-se de calor.
«Sol, ilumina a nova flor prateada do jardim!» pediu a borboleta.
E o Sol clareou o dia, esticando um raio na direcção do jardim. Ternamente, acariciou a corola brilhante e o pequeno botão prateado acordou, abrindo as suas pétalas.
A Borboleta de Mil Cores ficou encantada. A nova flor tinha enormes pétalas de fino recorte, decoradas com motivos de ouro. Os seus grãos de pólen pareciam minúsculos diamantes.
Atraída pela beleza e brilho mágico, a borboleta poisou na flor prateada.
Mas assim que tocou com as suas pequenas patinha no pólen da flor, as enormes pétalas fecharam-se, engolindo a borboleta!
E durante dias a Borboleta de Mil Cores não foi vista. Todas as manhãs as flores esperavam pelo seu alegre bater de asas, mas dele não havia sinal. E as flores começaram a perder as cores e a murchar sem o orvalho mágico da borboleta.
Até que um dia as belas pétalas da flor prateada voltaram a abrir. De dentro da flor saiu a Borboleta de Mil Cores, num bater de asas rápido. Estava mais brilhante e esbelta, e tinha na cabeça uma maravilhosa coroa cravejada com mil pedras preciosas. Tinha-se transformado na Rainha das Borboletas.
E ao ver o jardim tão murcho e seco, a Rainha das borboletas comoveu-se. Pegou na sua coroa e semeou as suas mil pedras preciosas.
Passado pouco tempo, com a ajuda do Sol, nasceram mil flores de pétalas cor de cristal.
A Rainha das borboletas voou sobre as flores, espalhando finos pós de perlimpimpim prateados e as mil flores abriram-se, libertando mil borboletas de asas transparentes.
E, a partir desse dia, todos os jardins do mundo passaram a ser banhados com pózinhos de borboleta, e as flores tornaram-se mais belas e coloridas.
Tantas foram as batalhas,
As derrotas,
As vitórias,
Tanto sangue nas memórias
De quem conduziste à morte...
Tantos soldados sem sorte
Enterrados sem as glórias
De viver longas histórias...
Tanta vida, tantas horas...
Tantos desejos fatais,
Golpes duros,
Sonhos brutais,
Tanto ódio plos demais
Toldando-te a visão...
Tanto fogo sem razão,
Chamas sem emoção,
Sem esperança, sem vontade,
Incêndio sem liberdade...
Tantos condenados
À maldição
De novos fados,
Corações tão mal-tratados,
Sem amor e sem cura...
Tantos olhares amargurados
Nas garras da loucura...
Tantas paixões, tantos futuros
Sem abraços ou ternura...
Tanta dor por ti causada,
No fim não traz mais nada
Do que o som da tua espada
A exigir justiça ao mundo...
E nesse último segundo,
Dessa existência irada,
És todo-poderoso:
Até a tua má sorte
Foi por ti comandada...